O assassinato do meu avô, as lágrimas e as narrativas emocionais de um neto

Eu me chamo José Dias Neto, porque há muitos anos atrás existiu um homem chamado José Dias de Oliveira, mais conhecido como ‘Zé de Doca’, meu avô por parte de pai, que eu não cheguei a conhecer.

Em um fatídico 1º de maio, de 1990, ele foi alvejado a tiros no sítio Vaca Morta, na zona rural de Cajazeiras e seus descendentes seriam impactados pelo resto de suas vidas.

Disparo esse que horas depois ceifou a vida de um pai de família, dilacerando o coração de duas crianças e uma mãe de família que precisava se desdobrar pra garantir o sustento, meu pai, meu tio e minha avó.

É com os olhos lacrimosos que escrevo cada palavra nesta crônica, tendo em vista que cresci, ouvindo os relatos do meu avô, homem que não pude conhecer, nem pedir a sua benção, mas sua honestidade e caráter estão sempre presentes em todo bate papo sobre Zé de Doca da Saelpa.

Até hoje, tantos anos se passaram, mas sempre que relembra do seu marido, minha avó, chora ao contar os detalhes de como ficou viúva. Ao mostrar equipamentos e utensílios que ele utilizava na antiga SAELPA, que minha avó guarda como se fosse pra preencher o vazio que a morte deixou, em um misto de saudade e superação.

Mesmo com pouco estudo [considerado um analfabeto funcional], meu avô era um exímio eletricista, responsável pela eletrificação de grande parte da cidade de Cachoeira dos Índios.

Até hoje as motivações do crime são desconhecidas por nós, embora existam várias narrativas. A principal é que ele foi morto covardemente, sem que nunca tenha havido justiça capaz de punir os assassinos.

Não consegui passar o Dia do Trabalhador sem lembrar do trabalhador que não conheci: meu avô. Talvez nessas palavras misturados com tantos sentimentos eu consiga imaginar como seria se ele estivesse no nosso meio capaz de abençoar seus filhos, netos (a) e bisnetas.

Para acalentar o coração, coincidente ou providencialmente recebi uma foto, a qual considero uma relíquia. Meu avô ao lado de seus amigos em um bar de Cachoeira dos Índios. Embora nunca tivesse ingerido bebida alcóolica, meu avô tinha muito amigos e se sentia bem estando ao lado de quem o considerava. Até hoje, essa é uma das raras fotos que vi do meu avô. Como vêem, era um homem simples, mas, repito, de caráter inquestionável.

Prometo voltar a falar sobre meu avô e sobre as memórias que minha avó guarda consigo e divide comigo nas nossas conversas.

Identificado na foto, meu avô ao lado de amigos em Cachoeira dos Índios. Foto: Arquivo familiar

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