Dom Francisco de Sales e as palavras escritas na iconografia do silêncio da Mãe de Jesus

Na minha trajetória como comunicador tive muitas experiências marcantes. Entrevistas, coberturas especiais, eventos renomados, enfim, fatos que marcam a atuação de todo e qualquer profissional e deixam marcas na mente e no coração. Uma das mais emocionantes páginas da minha memória, ocorreu em setembro de 2016: posse do novo bispo da Diocese de Cajazeiras, o nordestino que morava em Roma, Dom Francisco de Sales, nomeado pelo Papa Francisco para suceder o estimado Dom José Gonzáles.

Educado em princípios cristãos católicos e sob fortíssima influência de minha avó, aprendi desde cedo a participar das celebrações e movimentos da Santa Igreja. Os anos se passaram, e no rádio, como operador de áudio, era responsável técnico do programa ‘A Voz do Pastor’, apresentado todas as quintas, pelo então bispo da Diocese de Cajazeiras, Dom José. Eu selecionava as músicas, os trechos específicos e sentia prazer em ajudar no processo de evangelização através da Rádio Alto Piranhas naquele horário. Até hoje guardo comigo as lembranças e presentes que recebi de Dom José quando o mesmo retornava das viagens oficiais. Recordo que a renúncia do espanhol, radicado há décadas no Brasil, me causou espante e emoção, era como que um amigo tivesse que se distanciar abruptamente. Recordo da entrevista coletiva na Capela Episcopal e do choro do bispo. Aquele homem durão, desabou em lágrimas, ao anunciar que o Papa havia aceitado sua renúncia, após completar 75 anos de idade. A partir da renúncia de Dom José Gonzáles, a expectativa de todos era saber quem ocuparia tão importante cargo no interior da Paraíba: a centenária Diocese de Cajazeiras.

Depois de muita especulação, finalmente, os diocesanos foram surpreendidos com a decisão do Papa Francisco em nomear o frade Francisco de Sales, até então Secretário-Geral da Ordem dos Frades Carmelitas, em Roma, para ser o novo bispo da Diocese de Cajazeiras. Todos estávamos ansiosos para sua chegada, para conhecer e recepcionar o novo bispo. No dia de sua chegada, como repórter da TV Diário do Sertão, acompanhei todo percurso. Do Sítio Balanço de Cachoeira dos Índios, na divisa dos estados do Ceará com a Paraíba, até as últimas cerimônias daquele dia, celebradas nos territórios da Catedral Nossa Senhora da Piedade e Matriz Nossa Senhora de Fátima, em Cajazeiras. Como repórter, mas antes de tudo como cristão católico, foi um dos dias mais emocionantes que vivi. As demonstrações de carinho, os abraços, os chapéus retirados em sinal de respeito e acenos lacrimosos, marcam a minha memória afetiva. Ainda hoje, tanto tempo depois, lembrar disso, fortalece minha fé.

Tempos depois da festa de recepção, tive oportunidade de encontrá-lo no Palácio Episcopal, pessoalmente, pela primeira vez, frente a frente. Diante dos belíssimos ícones, vi um homem de fé e firmeza em palavras e atos. Naquele dia, recebi dele, um ícone de Nossa Senhora do Silêncio, que guardo comigo até hoje. Atrás daquele ícone impresso em papel fotográfico, à mão, o bispo escreveu uma oração-orientação para a minha vida. Letras unidas formando palavras e tocando o coração para impulsionar à ação.

Em suas homílias, Dom Francisco de Sales [quase sempre] traz um pensamento de São João Crisóstomo – bispo e doutor da Igreja – santo que dedicou sua vida à pregação, e através de palavras e atos revelava os dons de orador e sua profunda cultura. Se os santos são janelas que nos revelam Deus, talvez seja através da pregação inspirada nos inscritos de São João Crisóstomo [chamado assim, porque do grego Crisóstomo significa Boca de Ouro], o bispo diocesano de Cajazeiras, deseje revelar para todos o mistério de seguir à Deus e fazer sua santa vontade em nossos caminhos marcados pela incompletude.

Neste Domingo de Páscoa, celebrando a vitória da Vida, rendo graças a Deus pela vida de Dom Francisco de Sales. Que a Virgem Maria fortaleça seu sim ao chamado divino, para que ele continue pastoreando o território que o próprio Cristo reservou.

Como operário da vinha e pastor do rebanho, ele nos conduz até Vós, exortando-nos na fé e testemunhando amor e obediência a Vós e a Vossa Igreja. Conceda-lhe, Senhor, a graça de continuar firme na missão, agindo constantemente ‘in persona Christi’. “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).

O BISPO DA DIOCESE DE CAJAZEIRAS

Dom Francisco de Sales Alencar Batista nasceu em 17 de abril de 1968 em Araripina, no Estado de Pernambuco. Fez a profissão religiosa na Ordem dos Frades Carmelitas em janeiro de 1988 e foi ordenado sacerdote em 29 de novembro de 1995. Estudou Filosofia no Instituto Salesiano de Filosofia (INSAF), em Olinda-PE, e Teologia no The Milltown of Theology and Philosophy, em Dublin (Irlanda). Licenciou-se em Teologia Espiritual no Pontifício Instituto de Espiritualidade Teresianum de Roma.

No decorrer do seu ministério sacerdotal, desempenhou os seguintes cargos: formador dos estudantes de Filosofia; Reitor da Basílica do Carmo em Recife; Pároco; Conselheiro e Prior Provincial da Província Carmelita de Pernambuco; Vice-Prior da Comunidade do Colégio Internacional “Sant’Alberto” em Roma. Atualmente, é Secretário-Geral da sua Ordem em Roma.

JOSÉ DIAS NETO