A queda contínua de volume das reservas hídricas dos médios e grandes açudes no Ceará, desde 2012, aumenta a dependência pelas águas da transposição do Rio São Francisco. Qual o melhor caminho para o recurso hídrico chegar ao Castanhão, beneficiar cidades e outros açudes no interior?
O governo do Estado optou, de forma emergencial, pelo uso do Cinturão das Águas a partir da barragem de Jati, no Sul do Ceará. A água percorrerá até o Riacho Seco, em Missão Velha, e daí será transferida para o leito natural do Rio Salgado, chegando a Lavras da Mangabeira, Icó, depois segue trecho do Rio Jaguaribe até a bacia do Açude Castanhão.
Outra ideia vem de um professor de Geografia, aposentado, da rede estadual de ensino, Herli Barros. O docente sugere a inclusão de uma comporta no limite dos municípios de Santa Helena, na Paraíba, com Umari, no Ceará.
De acordo com Herli Barros, são cerca de 5 km do canal que deverá levar água para o Rio Grande do Norte até a cota superior do Açude Jenipapeiro entre Ipaumirim e Umari. “A água drenada da abertura da comporta segue até o açude por um riacho afluente, por gravidade, em um trecho pequeno”, explicou. “O sangradouro do açude está cerca de 8 km do Rio Salgado, é um trecho curto”, acrescentou.
O açude Jenipapeiro II foi construído para beneficiar os municípios de Umari, Baixio e Ipaumirim. O reservatório acumula 6,18%, após receber recarga recente das chuvas de dezembro último, segundo informações do Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). As três cidades dependem do reservatório e de distribuição de água por meio de caminhões-pipa para abastecimento dos moradores.
O professor Herli Barros enviou ao titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, a sugestão de inclusão de uma comporta no canal em Santa Helena, na Paraíba, a apenas 5 km de distância da cota superior da represa do açude Jenipapeiro II. “Quando o açude sangrar, a água vai escorrer por afluente natural e segue por gravidade até o leito do Rio Salgado, percorrendo uma distância de apenas 8 km”, frisou o professor.
Para ele, há várias vantagens para a instalação da comporta: menor custo, trecho da percurso reduzido, pouca perda de água, além do benefício de manter um açude público cheio, abastecer três cidades (Baixio, Umari e Ipaumirim) e perenizar áreas agricultáveis. Por último, Herli diz acreditar que a ideia de instalação da comporta não foi pensada anteriormente porque na época de elaboração do projeto de transposição não havia sido construído o Açude Jenipapeiro II.
Em resposta ao professor, por e-mail, o secretário Francisco Teixeira frisou que, uma vez construído o trecho de canal, denominado Ramal do Apodi, que vai transferir água para parte da Paraíba e para o Rio Grande do Norte, “a sugestão do professor Herli Barros poderá ser, plenamente, acatada”, observou Teixeira.
O secretário ressaltou, no entanto, que o Eixo Norte do Projeto São Francisco finaliza seu percurso cerca de 60 km antes do ponto onde o professor apresenta a sugestão de introduzir uma comporta, que seria mais exatamente no município de São José de Piranhas.
“A partir deste ponto, nasce o Ramal do Apodi (ainda não licitado) que conduzirá por 30 km as vazões para o Ceará e o Rio Grande do Norte. No km 30 deste canal, nasce o Ramal do Salgado que, através dos municípios de Ipaumirim e Lavras da Mangabeira, conduzirá a vazão para o Rio Salgado e, em seguida, para o Castanhão”.
O titular da SRH concluiu avaliando que a ideia do professor Barros poderá ser uma solução alternativa para a condução da água transposta ao Rio Salgado, mas somente após a construção dos primeiros 60 km do Ramal do Apodi.
Havia uma expectativa de conclusão da obra no fim do ano passado, porém mais uma vez o sonho de ver a água do Velho Chico chegar ao Ceará foi adiado. Com perspectiva de chuvas abaixo da média, Teixeira lembrou que a obra de transferência de água do São Francisco será a única forma de garantir o abastecimento para a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Fonte: Diário do Nordeste