O meu último encontro com o cajazeirense Dr. Rafael Holanda e os diagnósticos para a vida

Com olhos marejados, tentarei despedir-me do conterrâneo cajazeirense Dr. Rafael Rodrigues Holanda, que nos deixou na madrugada deste sábado (28), aos 75 anos, vítima da Covid-19.

Eu tive enquanto paciente, a oportunidade de ter sido atendido por ele em sua clínica em Campina Grande há cerca de 20 dias, através do intermédio da vereadora Léa Silva [que está com o coração dilacerado pela perda do amigo-irmão-pai]. E agora eu me pergunto: Será que eu fui o último cajazeirense a ter sido atendido por ele em Campina Grande? Pergunta difícil, resposta também.

No início de 2021, fui diagnosticado com Covid-19 e sofri bastante para superá-la. As sequelas em meu organismo, ao que tudo indica perdurarão por bastante tempo, e como no meu caso foram sequelas neurológicas, sempre desejei ser avaliado pelo conterrâneo, de quem sempre ouvi as melhores recomendações. Não somente pela sua especialidade, mas acima de tudo pela sua humanidade e sensibilidade com o próximo. Os escritos poéticos, memoriais e reflexivos de Dr. Rafael no blog Coisas de Cajazeiras de Christiano Moura expressam o coração e a vida de um ‘missionário da medicina’. Ler, ouvir ou assistir as mensagens do médico, era sempre um remédio para a alma, nestes tempos tão difíceis.

No atendimento com Dr. Rafael, há vinte dias atrás, não houve nada de extraordinário, análises de exames, prescrições e recomendações, mas o que me chamou a atenção, foi a vibração dele ao ver dois conterrâneos. Como eu estava com meu amigo Petson Santos, certamente podemos afirmar: o olhar de Rafael brilhou e se alegrou ao ver dois cajazeirenses em seu consultório. Afinal, incontáveis conterrâneos e/ou sertanejos foram atendidos e acalmados pela voz mansa e carinhosa do inesquecível Dr. Rafael Holanda.

Dr. Rafael Holanda. Foto: Cavalcante Fotógrafo

A medicação prescrita por Dr. Rafael, era uma indicação, porém a que eu já estava utilizando foi elogiada por ele, então preferi continuar. Confesso, não cheguei a tomar a medicação que ele prescreveu, mas, meu coração daquele dia em diante se tornou grato pelo seu atendimento e pela sua dedicação em atender, mesmo fora de expediente, um cajazeirense que precisava de seus cuidados. Recordo-me que no carro, voltando pra Cajazeiras, nossa terra, eu e Petson falávamos sobre o atendimento e experiência de Dr. Rafael, lembranças e conquistas que a morte não é capaz de apagar.

HOMENAGEM:

VÍDEO: Médico cajazeirense Rafael Holanda não resiste às complicações da Covid-19 e morre em Campina

Rafael Holanda será sempre lembrado, pelos seus conterrâneos, pacientes e por todos que de forma direta ou indireta receberam o afago do médico, que atuava na área como um verdadeiro missionário.

Um dos escritos de Rafael Holanda que é alento em nossos corações.

Destranque a porta do coração e solte seu pensamento em favor do mundo.
Acredito que muitos, devido ao medo, acham-se tão sós. Muitas lágrimas se tornaram fonte secundária à dor da ausência que desfez a beleza do amanhecer.
Oremos para que os grandes problemas se tornam pequenos. Que cada oração seja em busca da salvação de tantos que ainda não abriram a gaveta dos seus sonhos.
Hoje nos abrigamos, no meio da solidão, à procura de palavras que confortem e abraços que sosseguem.
Longa será a estrada, onde cada um procura uma mão que ampare, onde lenços anônimos enxugam lágrimas, pois acima de nós, com certeza, há alguém mais triste que nós.
Oremos!

Rafael Rodrigues Holanda

A ÚLTIMA ENTREVISTA DE RAFAEL HOLANDA NA TV DIÁRIO DO SERTÃO