‘O Libertador’, a opção pelos pobres e os 60 anos de padre Gervásio

Enquanto operador de áudio da rádio Alto Piranhas, um dos momentos mais satisfatórios, era controlar o áudio para o programa ‘A Voz do Pastor’ com Dom José Gonzáles, então bispo da Diocese de Cajazeiras, sempre às quintas, após o programa de George Sandro. E foi num dia como esse que ouvi falar pela primeira vez, do padre Gervásio Queiroga.

A ‘produtora’ do programa do bispo era Olindina, cirúrgica nas escolhas musicais e trechos pré-selecionados. Todos os detalhes eram anotados em um papel-roteiro que ela me entregava minutos antes do programa entrar no ar, para que seguisse de forma impecável.

Olindina também me auxiliava no cumprimento de cada etapa e tínhamos um entrosamento técnico incrível. Eu mesmo ficava maravilhado, ao ver que tudo ocorria dentro do combinado ou improvisado.

Certa vez, ela chegou com um CD de Zé Vicente – cantor católico conhecido nacionalmente – e enquanto o bispo fazia a reflexão do evangelho, para minha surpresa, Olindina me exibia a capa do CD em que o missionário destacava o despertar da sua vocação. Em breves palavras, Zé Vicente dizia que ouvindo um programa de um padre da Diocese de Cajazeiras pelas ondas sonoras da Alto Piranhas, ouviu o chamado para seguir o Cristo e abandonou-se em missão para angariar almas para o reino. O padre, ela em dizia – me lembro até o tom de voz – é Padre Gervásio, um grande ser humano.

Desde então, passei a querer saber mais desse sacerdote, sua história e caminhada encorajadora. Na mesma emissora, durante muitos anos, Padre Gervásio apresentou um programa, sempre às terças, das 11h às 11h30. A característica ou fundo musical era uma música de Padre Zezinho: ‘O Libertador’.

Ao reproduzir essa música ‘’venham ver quem é o meu libertador, Jesus de Nazaré, Jesus de Nazaré (…)’’, todos da rádio diziam – dizem – essa é a música de Padre Gervásio.

Dom Zacarias e Padre Gervásio. Foto: Arquivo Pessoal

Com o passar dos anos, de minha parte, o carinho e a admiração pelo padre Gervásio só aumentaram. Por ser operador da rádio, consegui me aproximar do Instituto Jesus Missionário dos Pobres, fundado pelo sacerdote em 1985 para despertar vocações e desbravar um pouco da sua história. Desde sempre, meio que automaticamente, consegui através dessa via, muitos outros amigos(as), que como Padre Gervásio, nos apontam o caminho do bem em tempos tão difíceis.

Muitas foram as entrevistas, conversas descontraídas e ensinamentos para o autor do blog, ao longo desses anos. Gervásio tem algo que ninguém nunca conseguiu me explicar: o ensinamento através de gestos. Até quando silencia nos ensina. Com idade avançada, em plena pandemia, abriu as portas do Instituto no mês de maio e me presenteou com um ícone da Virgem de Fátima. Quando eu entrei, à metros de distância, em tom de brincadeira, o padre disse que em razão do medo da Covid-19, me explicaria em rapidíssimas palavras a imagem mariana: ‘Este ícone é original, trazido de Fátima que agora ficará aos seus cuidados’, dizendo isso seguiu para seu quarto. Ao passar a porta, retornou, colocou a cabeça à vista e acrescentou, em meio a uma gargalhada: ‘já está abençoado, tudo bem?!, não posso me expor’. Ao sair gravei um vídeo para expressar minha gratidão a esse sacerdote, que hoje celebra 60 anos de um ministério fecundo e cheio da presença de Deus.

Nesta data tão importante, temos sem dúvidas, mais de sessenta motivos para celebrar a vida e o ministério do querido padre Gervásio Fernandes Queiroga.

O MONSENHOR QUE DESEJA SER CHAMADO DE PADRE

Gervásio Queiroga nasceu em junho de 1934, é doutor em direito canônico, mestre em filosofia e em teologia, pela Universidade Gregoriana, de Roma, e bacharel em ciências jurídicas, pela Universidade Federal da Paraíba, onde também foi professor no curso de direito do campus de Sousa-PB. Foi assessor da presidência da CNBB Nacional por 21 anos, tendo trabalhado ao lado de gigantes da Igreja do Brasil, como Dom Ivo Lorscheiter e seu primo, Dom Aluísio Lorscheiter, Dom Luciano Mendes de Almeida e Dom Raymundo de Assis Damasceno, atual cardeal de Aparecida; coordenador diocesano de pastoral das dioceses de Patos e de Cajazeiras não poucas vezes.

Fundou, em 1985, o Instituto Jesus Missionário dos Pobres, raiz da Sociedade Missionária para a Evangelização dos Pobres, fruto de seu incansável coração missionário. Por suas mãos formativas, somente no Instituto de Filosofia “Verdade e Vida”, já passaram mais de 40 jovens que, hoje, em várias dioceses do Nordeste, são padres. Muitos outros, bons cidadãos e bons pais de família, bons profissionais e bons cristãos.

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